sábado, 19 de janeiro de 2013

POSTAIS COM HISTÓRIA 02

Ana de Castro Osório
 
 

O postal hoje publicado é bastante vulgar, do conhecido editor Araújo e Sobrinho, Porto. sendo o n.º 13 da série, datado de 23-08-1901.
No entanto, adquire outro valor quando atentamos na destinatária, a famosa Ana de Castro Osório, grande activista republicana, tal como seu marido, Paulino de Oliveira.
Para melhor conhecimento de quem foram esses republicanos, transcrevo algumas notas biográficas de cada um deles.
1 - Ana de Castro Osório, filha do juiz João Baptista de Castro e de Mariana Osório de Castro Cabral de Albuquerque, nasceu em Mangualde a 18 de Junho de 1872 num ambiente culturalmente privilegiado. Após uma infância e adolescência passada na sua terra natal, foi em Setúbal, para onde se muda com a família em 1895, que iniciou a sua carreira literária e política. Em 1898 casou com Francisco Paulino Gomes de Oliveira, poeta, jornalista, editor e activista republicano.
Sem nunca ter frequentado o ensino formal, Ana de Castro Osório cedo se lançou na edição de uma Colecção Para Crianças (Abril de 1897), actividade que a iria tornar nacional e internacionalmente conhecida. Com esta colecção, pretendeu criar uma literatura infantil de inspiração portuguesa, com contos próprios para aquela faixa etária. Assim, a Biblioteca Infantil Ilustrada obteve logo no ano da sua edição o Grande Diploma de Honra na Exposição da Imprensa. Foi autora de livros destinados ao ensino primário geral e ensino primário superior, concorrendo ao concurso aberto em 1920 para escolha de manuais escolares com O Livrinho Encantador, Os Nossos Amigos, Lendo e Aprendendo, Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda e A Minha Pátria. Na memória justificativa com que se apresentou ao referido concurso, explicava que não “se constrói uma sociedade, nem se reforma uma Pátria se as crianças não forem desde os primeiros anos dirigidas, instruídas e disciplinadas para um alto fim de grandeza e idealismo superior da Pátria a que pertencem (…)”
Desde muito cedo Ana de Castro Osório enveredou pelo jornalismo, não só publicando muitos artigos que abordavam temas ligados às crianças, às mulheres e à defesa da pátria, mas também dirigindo periódicos como Sociedade Futura (1902), O Jornal dos Pequeninos (1907-1908), A Mulher e a Criança (1909-1910), A Semeadora (1915-1918). Desempenhou ainda um papel relevante no jornal setubalense O Radical (1910-1911).
Em 1907, Ana de Castro Osório filiou-se na Loja Maçónica Humanidades, adoptando como nome simbólico Leonor da Fonseca Pimentel. Feminista empenhada defendeu pela pena e pela acção a educação e instrução das crianças e das mulheres, a independência económica feminina, a igualdade de direitos entre os dois sexos, o acesso da mulher a diversas profissões, o sufrágio feminino restrito, a igualdade de direitos entre os cônjuges, a lei do divórcio e o direito «a salário igual para trabalho igual». Politicamente comprometida, republicana convicta, Ana de Castro Osório considerava que o papel da mulher não podia continuar a resumir-se ao de mãe e esposa, pelo que, para conseguir romper com as dependências tradicionais, a mulher deveria ser economicamente independente, o que implicava uma educação e instrução adequadas e em pé de igualdade com a educação ministrada ao sexo masculino. Os poderes públicos deveriam, portanto, dar uma atenção redobrada à educação
feminina pois eram as mulheres as principais educadoras e formadoras das crianças.

Como feminista empenhada, Ana de Castro Osório começou por dirigir, em 1907, o Grupo Português de Estudos Feministas, uma associação feminista ligada ao Partido Republicano Português. Ana de Castro Osório considerava a República, não como o regime ideal, mas como aquele que poderia trazer nova esperança para o país, sobretudo nos planos social, educativo e moral. Assim, apoiou a Lei do Divórcio e as Leis da Família, da autoria de Afonso Costa e publicadas durante o primeiro governo provisório republicano.
 Em 1911 acompanhou o marido ao Brasil que fora nomeado cônsul em S. Paulo. Antes de partir, fundou com Carolina Beatriz Ângelo a Associação de Propaganda Feminista, a primeira organização sufragista portuguesa. O seu trabalho em prol das crianças mais necessitadas tornou-se bem evidente no apoio que deu à Obra Maternal, criada no âmbito da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas por Maria Veleda. Mais tarde, procurou lanças as Ligas de Bondade, através do Grémio Carolina Ângelo, que procuravam afastar as crianças da delinquência e da criminalidade. Ana de Castro Osório advogou a criação de creches para filhos das mulheres operárias. Com o deflagrar da 1ª Guerra Mundial, fundou a associação Pela Pátria, com o fito de trabalhar junto das famílias e dos soldados mobilizados e em 1916 participa na organização da Cruzada das Mulheres Portuguesas.
Ana de Castro Osório que esteve, desde o primeiro momento, com os defensores da entrada de Portugal no primeiro grande conflito mundial do século XX ao lado de países como a França, a Inglaterra e a Bélgica, passou a escrever quase em exclusivo, sobre a defesa da Pátria, que considerava a grande questão nacional. Contudo, vai-se desiludindo com a República, pois esta não lhe atribuiu nenhum papel relacionado com a instrução, com a demora na abertura de concurso para a provação dos novos manuais escolares e pela aposentação forçada de seu pai.
Ana de Castro Osório desiludira-se com a República, que apelidara de incompetentes, uma vez que o povo continuava, como na Monarquia, sem instrução e assistência. Na década de 20, a escritora e feminista deixava-se tocar pela onde de Nacionalismo que submergia Portugal, continuando, contudo, racionalista e defensora da liberdade de raciocínio.
A 23 de Março de 1935, com 62 anos de idade, Ana de Castro Osório morria em Lisboa. O seu funeral foi acompanhado por personalidades bem diferenciadas como Fernanda de Castro e Maria Veleda, Regina Quintanilha, João de Barros, António Sérgio, Rodrigues Miguéis, Aquilino Ribeiro, Hernâni Cidade.
2 - Paulino de Oliveira : escritor e poeta português, nasceu em 1864, em Setúbal, e morreu em 1914, em São Paulo, no Brasil, país onde se exilou após a revolta de 31 de janeiro de 1891 (tentativa de implantar a República em Portugal).
Paulino de Oliveira, quando ainda morava em Setúbal, foi jornalista em publicações republicanas. no Brasil, dedicou-se à poesia e à literatura infanto-juvenil, neste último caso em parceria com a mulher, a escritora Ana de Castro Osório. Nos seus primeiros anos de escritor usou o pseudónimo Anúplio de Oliveira.

Ainda no Brasil, Paulino de Oliveira foi cônsul de Portugal em São Paulo, entre 1911 e 1914.

 
 
 

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