Ana de Castro Osório
O postal hoje publicado é bastante vulgar, do conhecido editor Araújo e Sobrinho, Porto. sendo o n.º 13 da série, datado de 23-08-1901.
No entanto, adquire outro valor quando atentamos na destinatária, a famosa Ana de Castro Osório, grande activista republicana, tal como seu marido, Paulino de Oliveira.
Para melhor conhecimento de quem foram esses republicanos, transcrevo algumas notas biográficas de cada um deles.
1 - Ana de Castro Osório, filha do
juiz João Baptista de Castro e de Mariana Osório de Castro Cabral de
Albuquerque, nasceu em Mangualde a 18 de Junho de 1872 num ambiente
culturalmente privilegiado. Após uma infância e adolescência passada na sua
terra natal, foi em Setúbal, para onde se muda com a família em 1895, que
iniciou a sua carreira literária e política. Em 1898 casou com Francisco Paulino
Gomes de Oliveira, poeta, jornalista, editor e activista republicano.
Sem nunca ter frequentado o ensino formal, Ana de Castro Osório cedo se lançou
na edição de uma Colecção Para Crianças (Abril de 1897), actividade que a iria
tornar nacional e internacionalmente conhecida. Com esta colecção, pretendeu
criar uma literatura infantil de inspiração portuguesa, com contos próprios
para aquela faixa etária. Assim, a Biblioteca Infantil Ilustrada obteve logo no
ano da sua edição o Grande Diploma de Honra na Exposição da Imprensa. Foi
autora de livros destinados ao ensino primário geral e ensino primário
superior, concorrendo ao concurso aberto em 1920 para escolha de manuais
escolares com O Livrinho Encantador, Os Nossos Amigos, Lendo e Aprendendo,
Viagens Aventurosas de Felício e Felizarda e A Minha Pátria. Na memória
justificativa com que se apresentou ao referido concurso, explicava que não “se
constrói uma sociedade, nem se reforma uma Pátria se as crianças não forem
desde os primeiros anos dirigidas, instruídas e disciplinadas para um alto fim
de grandeza e idealismo superior da Pátria a que pertencem (…)”
Desde muito cedo Ana de Castro Osório enveredou pelo jornalismo, não só
publicando muitos artigos que abordavam temas ligados às crianças, às mulheres
e à defesa da pátria, mas também dirigindo periódicos como Sociedade Futura
(1902), O Jornal dos Pequeninos (1907-1908), A Mulher e a Criança (1909-1910),
A Semeadora (1915-1918). Desempenhou ainda um papel relevante no jornal
setubalense O Radical (1910-1911).
Em 1907, Ana de Castro Osório filiou-se na Loja Maçónica Humanidades, adoptando
como nome simbólico Leonor da Fonseca Pimentel. Feminista empenhada defendeu
pela pena e pela acção a educação e instrução das crianças e das mulheres, a
independência económica feminina, a igualdade de direitos entre os dois sexos,
o acesso da mulher a diversas profissões, o sufrágio feminino restrito, a
igualdade de direitos entre os cônjuges, a lei do divórcio e o direito «a salário
igual para trabalho igual». Politicamente comprometida, republicana convicta,
Ana de Castro Osório considerava que o papel da mulher não podia continuar a
resumir-se ao de mãe e esposa, pelo que, para conseguir romper com as
dependências tradicionais, a mulher deveria ser economicamente independente, o
que implicava uma educação e instrução adequadas e em pé de igualdade com a
educação ministrada ao sexo masculino. Os poderes públicos deveriam, portanto,
dar uma atenção redobrada à educação feminina pois eram as mulheres as
principais educadoras e formadoras das crianças.
Como feminista empenhada, Ana de Castro Osório começou por dirigir, em 1907, o
Grupo Português de Estudos Feministas, uma associação feminista ligada ao
Partido Republicano Português. Ana de Castro Osório considerava a República,
não como o regime ideal, mas como aquele que poderia trazer nova esperança para
o país, sobretudo nos planos social, educativo e moral. Assim, apoiou a Lei do
Divórcio e as Leis da Família, da autoria de Afonso Costa e publicadas durante
o primeiro governo provisório republicano.
Em 1911 acompanhou o marido ao Brasil que fora
nomeado cônsul em S. Paulo. Antes de partir, fundou com Carolina Beatriz Ângelo
a Associação de Propaganda Feminista, a primeira organização sufragista
portuguesa. O seu trabalho em prol das crianças mais necessitadas tornou-se bem
evidente no apoio que deu à Obra Maternal, criada no âmbito da Liga Republicana
das Mulheres Portuguesas por Maria Veleda. Mais tarde, procurou lanças as Ligas
de Bondade, através do Grémio Carolina Ângelo, que procuravam afastar as
crianças da delinquência e da criminalidade. Ana de Castro Osório advogou a
criação de creches para filhos das mulheres operárias. Com o deflagrar da 1ª
Guerra Mundial, fundou a associação Pela Pátria, com o fito de trabalhar junto
das famílias e dos soldados mobilizados e em 1916 participa na organização da
Cruzada das Mulheres Portuguesas.
Ana de Castro Osório que esteve, desde o primeiro momento, com os defensores da
entrada de Portugal no primeiro grande conflito mundial do século XX ao lado de
países como a França, a Inglaterra e a Bélgica, passou a escrever quase em
exclusivo, sobre a defesa da Pátria, que considerava a grande questão nacional.
Contudo, vai-se desiludindo com a República, pois esta não lhe atribuiu nenhum
papel relacionado com a instrução, com a demora na abertura de concurso para a
provação dos novos manuais escolares e pela aposentação forçada de seu pai.
Ana de Castro Osório desiludira-se com a República, que apelidara de
incompetentes, uma vez que o povo continuava, como na Monarquia, sem instrução
e assistência. Na década de 20, a escritora e feminista deixava-se tocar pela
onde de Nacionalismo que submergia Portugal, continuando, contudo, racionalista
e defensora da liberdade de raciocínio.
A 23 de Março de 1935, com 62 anos de idade, Ana de Castro Osório morria em
Lisboa. O seu funeral foi acompanhado por personalidades bem diferenciadas como
Fernanda de Castro e Maria Veleda, Regina Quintanilha, João de Barros, António
Sérgio, Rodrigues Miguéis, Aquilino Ribeiro, Hernâni Cidade.
2 - Paulino de Oliveira
: escritor e poeta português, nasceu em 1864,
em Setúbal, e
morreu em 1914, em
São Paulo, no
Brasil, país onde
se exilou após
a revolta de
31 de janeiro de
1891 (tentativa de
implantar a República em
Portugal).
Paulino de
Oliveira, quando ainda morava em
Setúbal, foi jornalista em
publicações republicanas. Já no
Brasil, dedicou-se à poesia e
à literatura infanto-juvenil, neste último caso
em parceria com
a mulher, a escritora Ana de Castro Osório. Nos
seus primeiros anos de
escritor usou o pseudónimo Anúplio de Oliveira.
Ainda no Brasil, Paulino de Oliveira foi
cônsul de Portugal em
São Paulo, entre 1911 e 1914.